quinta-feira, 25 de junho de 2009

Nos idos de 2005, Conversas em família

Sem que o Orçamento de Estado para 2005 já tivesse sequer ter sido aprovado, já nos foram mostrados recentemente como são os princípios da boa governação, decerto inspirado nos princípios intocáveis de Locke, John Adams, Descartes ou dos pais fundadores dos EUA.

Como numa reedição das tristemente célebres "conversas em família" com que o anterior chefe do governo Marcello Caetano nos brindava recorrentemente, numa atitude pseudo-pedagógica, explicando por A + B como é que se governava um estado e como os portugueses teriam que aguentar mais sacrifícios agravados após o surto inflaccionista de 1973.

Terminava a conversa em família, descontraídamente respaldado na eterna poltrona do poder, acrescentado meia dúzia de patacoadas sobre o mérito de termos as "províncias ultramarinas", julgando que no dia seguinte os portugueses iriam todos mais satisfeitos, porque mais esclarecidos para o trabalho, no país que estava ao tempo incomensuravelmente a milhas dos índices de desenvolvimentos económico e humanos mundiais.

Enfim, estávamos vergonhosamente sós.

Bagão Félix, nos extertor do santanismo, brindou-nos com uma sessão televisiva com cheiro a "deja vú", armado em mestre-escola, no dizer de Agostinho Lopes, e simplisticamente querendo fazer-nos convencer, confiando por certo na proverbial iliteracia dos portugueses que as finanças de um Estado são uma mera extensão dos princípios das finanças caseiras de uma família (Deus, Pátria e Família).

E apontando as linhas pseudo-estratégicas para os 2 anos que faltam até à então prevista vassourada de 2006, que se antecipou por impaciências de Sampaio, para 2005, disse o mesmo e o seu contrário do que o primeiro-ministro Santana Lopes nos tem querido dizer, dizendo e desdizendo-se logo de seguida.

Começa por dizer que o Estado (funcionários públicos) são responsáveis por absorver a maioria da riqueza nacional, o que é incrível, dado que em 30 anos de Democracia, o PSD esteve sempre presente no poder, só ou em coligação, tirando até então o hiato do consulado de Guterres.

Afirma mesmo que as despesas de Saúde e Educação não são cobertas pelas receitas de IRS, ficando nós na dúvida sobre as formas de financiamento de outras áreas como as do reequipamento das Forças Armadas, ou na Ciência e Tecnologia, reformas judiciais, Cultura, ou investimento público.

Mais, deu a entender que os funcionários públicos serão uma espécie de judeus dos tempos modernos (os nazis acusavam os judeus de todos os males da Alemanha) e querendo fazer esquecer que os funcionários públicos deste país são igualmente portugueses e não extra-terrestres, e que nomeadamente ao contrário de muitos outros, os funcionários do Estado pagam os seus impostos todos.

Utilizou a fórmula mágica do princípio "Utilizador-Pagador", referindo-se aos serviços de saúde, e às SCUT's.

Duas observações apenas:

A aplicar-se esse princípio de descriminação positiva, nomeadamente no caso da prestação de cuidados de saúde, o que até poderia ser positivo, já que quem mais pode, pode pagar maiores taxas moderadoras, como se explica que o Primeiro-Ministro, Pedro Santana Lopes, que não aufere propriamente do ordenado mínimo nacional, nem descende de famílias à beira de uma confrangedora pobreza, não paguasse então o alojamento no Palácio de S. Bento, uma vez que bem poderia viver numa casa própria como o fizeram os primeiros ministros anteriores, à excepção de Cavaco e Salazar?

Ou como se explica que após mais um pedido de sacrifício aos portugueses, no que respeita aos aumentos salariais, fazendo-os crer de que estes dependem do aumento nunca vindo da chamada "produtividade", saia no mesmo dia um relatório que afirma que os gestores portugueses são dos mais bem pagos de um grupo de 25 país, nomeadamente Suíça, e Suécia?

Pouca produtividade, nas indústrias e serviços, com gestores tão bem pagos?

Como se mede então a "produtividade" de gestores tão bem remunerados?

E dos comentadores económicos que defendendo as cartilhas neo-liberais de pacotilha vêem enxameando os telejornais e colunas de opinião da imprensa escrita?

A sua produtividade é científicamente mensurável?

Será que estes comentadores pagam os impostos referentes às astronómicas verbas de que auferem com comentários simplistas onde se limitam a debitar os princípios das cartilhas da Escola de Chicago?

Quem mede a sua produtividade?

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