sexta-feira, 26 de junho de 2009

INDECISÕES

Agora, de repente, e para além dos órgãos de soberania que a Constituição da República enquadra, e que são eleitos pela população, e são escrutinados em cada eleição, aparece um fenómeno estranho na sociedade:

É a chamada "sociedade civil" que se manifesta.

Claro que toda a gente se pode, ou individualmente, ou em colectivo manifestar-se e dar as suas opiniões.

Mais grave é se o Governo, seja ele qual for, vá invariavelmente atrás dessas "forças vivas" que me parecem ser um fenómeno novo no país, e porventura inédito em qualquer democracia e Estado de Direito:

Primeiro os do conclave do Beato, ultra-liberais, que se reúnem (ou reuniam) de 2 em 2 anos, para celebrar verdadeiras missas neo-liberais, mas que agora com a crise os mercados, parecem de repente ter ficado calados, porque se antes o Estado era gordo e era mesmo apelidado de "monstro", quando o actual PR era ainda um colunista de opinião, porque o Estado deveria ser remetido à Defesa, Administração Interna, Negócios Estrangeiros e muito pouco mais, agora é ver empresários grandes e pequenos a pedincharem ajudas do mesmo Estado que antes execravam, e até multinacionais a fazerem chantagem sobre se o Estado, que se este não apoiar mais em benefícios fiscais e em subsídios, que saem do país para os novos paraísos laborais, onde se trabalham 10 ou 12 horas em troca de uma tigela de arroz, a pedir apoios estatais para aqui e para ali.

Mas verdadeiramente espantoso foi o facto da decisão da mudança da localização do novo Aeroporto de Lisboa ter mudado da Ota para Alcochete, após um sumário estudo encomendado pela CIP (!) a um douto José Manuel Viegas.

A mesma CIP, que agora se pronuncia e condiciona o Estado, sobre a nova travessia do Tejo, e até sobre o modo de ligar o novo Aeroporto de Lisboa, à rede de Alta Velocidade, e mais espantoso ainda, assistir ao modo como o Estado, através do Governo, segue os sábios conselhos da CIP.

E como se tudo isto não fosse suficiente para que o restante da sociedade portuguesa não se interrogasse, surge agora um verdadeiro conselho de ansiãos, ou de sábios, os célebres 28 “economistas” que antes estiveram calados, sobre o TGV, o novo aeroporto de Lisboa, sobre a modernização do aeroporto Francisco Sá Carneiro, sobre as auto-estradas com portagem e SCUT’s, e sobre a terceira travessia do Tejo, como o ficaram acerca da travessia entre Vila Franca e ao Carregado, sobre a extensão da A-10, despertar agora para os perigos de grandes investimentos, no que concerne ao temido endividamento público.

E mais uma vez o estado, através do Governo recuará?

Parece que sim, já que não ouvindo a oportunística posição do PSD transfigurado agora no partido do pouco ou nada fazer, numa reedição salazarenta do país,, tentando fazer esquecer os tempos de Ferreira do Amaral na altura Ministro das Obras Públicas, qual fontista do século XX, e que agora passa os seus dias a gerir a Lusoponte, mas sim adiar, porque os sábios 28, que por sinal também não foram eleitos por ninguém, nem serão julgados em urna, numas futuras eleições, o dizem.

Ou estes estarão a perfilar-se para o Governo que vier a sair em breve das eleições de final de ano? É que nem em dois governos caberiam todos…

Como inédito é ser a CIP a pronunciar-se junto da NAER sobre os ritmos e avanço e expansão do novo Aeroporto, ou sobre a RAVE sobre os ritmos de avanço e até alguns trajectos do TGV em Portugal

Tudo seria perfeito, no entanto se a CIP fosse mais um órgão de soberania eleito pela população, pelo povo, e não uma confederação cuja direcção é apenas e só eleita pelos seus pares, que nem são muitos.

E assim vai o país, de indecisão em indecisão, após mascarar essas hesitações sob a forma de decisões que afinal não o são, e sob a capa de que o Estado e o Governo em particular saber ouvir e dialogar com essas “forças vivas” da sociedade.

Por este caminho ainda será mais um estudo da CIP ou de outro grupo de interesses particulares a determinar qual o material circulante que irá ser adquirido para circular nas linhas de alta velocidade, isto se elas de facto virem a existir em tempo útil.

E vai passando o tempo, os meses e os anos, sem que nada se conclua, sem que nada avance, sem que nada se concretize, se exceptuarmos as auto-estradas, porque essas começam a dar retorno imediato graças às sacro-santas portagens, com negócios que metem a negociata da Lusoponte a um recanto de santa honestidade.

Entretanto lá para 2010 ou 2011 a ligação de AV entre Madrid e Badajós estará concluída, e Portugal, mais uma vez vergonhosamente só, a pensar, a reflectir a estudar e sobretudo sem decidir sem ouvir grupos de pessoas que ninguém escolheu, ninguém elegeu.

Sem comentários:

Enviar um comentário