sexta-feira, 26 de junho de 2009

Armada Portuguesa - Um ponto de Situação





Fragata NRP Bartolmeu Dias

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Chegados a meados de 2009, poderemos fazer um ponto de situação sobre o dispositivo da Armada Portuguesa?

Ao observar o que existe, o que está perto de fim de vida, e o que está para chegar, poderemos concluir que a Armada Portuguesa está a renovar-se, pelo menos no plano das intenções.

Com um dispositivo que roda à volta das suas unidades mais visíveis, as fragatas, temos agora 3 fragatas da classe Vasco da Gama, com 18 anos de vida, e por isso a necessitar de um up-grade, que não está programado, e as recentes Bartolomeu Dias, 2 fragatas do tipo M, compradas recentemente à Holanda, de que já chegou a primeira, sendo a segunda entregue, prevê-se em 2010, usadas, e muito semelhantes às Vasco da Gama, ao nível de electrónicas e sistemas de armas.

Ou seja, a Marinha fica assim com 5 fragatas multi-usos, com capacidade essencialmente para luta superfície-superfície, e luta anti-submarina, e relativamente fracas nas suas capacidades defensivas Ar-Mar.

Uma capacidade acrescida, já que as M holandesas substituem as velhas João Belo, fragatas dos anos 60, e sem valor militar relevante para os nossos tempos.

Num tempo em que as doutrinas militares nomeadamente as aplicáveis às forças navais passa muito por uma adequação de meios para as novas ameaças assimétricas, julgamos nós que a existência de meios mais pesados não deixam de constituir uma boa plataforma para lhes fazer face, e que frente a ameaças convencionais, o “duelo” assimétrico, com tem dado boas provas com o dispositivo naval que patrulha as águas da Somália, ao se mostrar bastante eficaz na luta contra os piratas, quer pelo poder de fogo e negação, escolta de navios, e também pela dissuasão que representam.

A permanência da NRP Corte Real integrada na força internacional nessa luta e patrulhamento, ser essencialmente para os treinos e aprontamentos que as marinhas têm tido para essas novas eventuais ameaças, que nasceram já nos idos de 90, aquando do ataque no porto de Adem, ao USS Cole, ataque com êxito a um destroyer de 10.000 ton. de deslocamento, vítima de um pequeno bote carregado de explosivo eficazes.

Falta agora falar do programado, e à muito ansiado para a nossa Marinha e para o país, Navio Polivalente Logístico.

Como contra-partidas pela compra dos dois submarinos, a HDW aceitou elaborar o projecto desse navio.Conceptualmente um “Navio Polivalente Logístico” pode ser tudo, desde um simples reabastecedor de esquadra, um AOR, conceito que ultrapassa o de simples “petroleiro”, um LPD, um LHD, ou outro conceito, como um simples Ro-Ro.

A “escola” e doutrina que deu frutos através dos LPD espanhóis Galícia e Castilla, os franceses Mistral e Tonerre, ou o mais recente navio espanhol, um verdadeiro LHD, fazem-nos pensar em muito, de que daí pode sair tudo ou nada.

Não se conhece neste momento, ou pelo menos não é do domínio público o tipo ou conceito de navio, embora já a Marinha se tenha pronunciado sobre o que precisava, e que era muito semelhante em termos de dimensão e conceitos aos LPD’s espanhóis.

Pelo que parece que mais uma vez, de adiamento em adiamento a Marinha e o País não terão essa capacidade desmultiplicadora de forças tão cedo, e ao olhar para trás, já foram muitas as situações em que Portugal precisou e não teve um navio adequado a certos tipos de missões.

Hoje em dia, quando as guerras ou conflitos já não são na fronteira dos estados, é essencial a um Estado ter capacidade autónoma, ainda que em coligação com outros, de meios de projecção e sustentação de forças no terreno.

Ou para ter meios que permitam acudir a catástrofes naturais, ou ainda para fins humanitários, dada a sua capacidade e polivalência.

Outro problema, e este de certo modo grave aparece no horizonte:

O Programa dos Navios de Patrulha Oceânica (NPO’s) que parece estar comprometido definitivamente.

De um programado inicialmente de 10 unidades, após assinatura de contrato com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, mais duas com capacidade de combate à poluição, passou posteriormente o número para 8 unidades, já incluídas estas duas unidades.

Mas pior, as duas primeiras unidades foram lançadas à água, há cerca de 4 anos, e aí permaneceram, acostadas em Viana, sem que se completem os trabalhos.

A Marinha acusa dos ENVC de não os ter construído bem, e de acordo com as especificações do caderno de encargos, e a administração dos estaleiros, a garantir que a Marinha está constantemente a fazer alterações nas especificações.

O certo é que a Armada continua a fazer patrulha oceânica e viagem com cadetes utilizado o que resta das velhas corvetas Batista de Andrade e João Coutinho, sendo estas últimas consideradas desadequadas para os mares oceânicos, já que a sua concepção esteve orientada para outros mares, mais calmos, a fim de darem apoio ao esforço de guerra nas antigas colónias.

Desse modo teremos corvetas com mais de 40 anos a garantir essas tarefas, porventura ajudadas pontualmente por uma fragata.

Também o programa as Lanchas de Fiscalização Costeira está parado, já que este programa de construção de 5 lanchas está dependente da evolução do programa dos NPO’s.

Este negócio entre a Ministério da Defesa, que remonta ao tempo em que Paulo Portas era Ministro da Defesa, e a EMPORDEF, empresa pública proprietária dos ENVC, parece estar errado a partir do ponto em que se iniciou a discussão sobre o futuro do Arsenal do Alfeite.

Fala-se agora, se não de uma privatização, e venda a empresas estrangeiras, como aconteceu com a OGMA, pelo menos de uma maneira de emprezializar o funcionamento desse estaleiro.

Os interesses rondam os Estaleiros do Arsenal, e não me espantaria que o programa dos NPO’s passasse a ser gerido e concluído por um Arsenal do Alfeite emprezializado e eventualmente com parte dos capitais privatizados.

De outra forma, não se entende este jogo do empurra entre a Marinha e a EMPORDEF, ambas do Estado.

Resta-nos o programa dos dois submarinos SLK, do tipo U209PN, construídos pelos estaleiros alemães da HDW.

Verdadeiras armas de negação dos mares, dissuasores e operativos de acordo com a natureza de determinadas missões, e algo caros, porventura comprometedores de outras capacidades que a armada poderia e deveria ter.

E é tudo.

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