Parece-me que a imagem que o público em geral tem dos caminhos de ferro mudou muito em pouco mais de 30 anos.
Assim como mudou a tipologia do passageiro. Mesmo na terminologia usada: Se antes, quem andava de comboio era "passageiro", agora é "cliente".
Antes, o comboio era o transporte por excelência quer para quem sozinho se deslocava por necessidade, quer para a família que tinha que ir à capital de distrito tratar de umas coisas ou ir ao médico, ou visitar os filhos entretanto "imigrados" em Lisboa ou no Porto.
Agora, com a democratização do automóvel e boas estratdas o público-alvo da CP (e de outras operadoras) passou a ser o público que dos subúrbios migram diáriamente numa direcção e volta para a cidade para trabalho - os suburbanos, entretanto renovados, e onde porventura a REFER mais investiu, quer na infra-estrutura, quer a CP, com a aquisição de novos comboios (as 2300/2400/ as 3500 e as 3400), isto no início dos anos 90, exactamente na mesma altura em que uma parte significativa da rede ferroviária nacional deixou de ser utilizada e as circulações extintas.
O comboio, mais rápido que outrora, para longas distências, serve essencialmente pessoas que viagem sózinhas em negócios/trabalho. Porque para uma família de 3 pessoas deixou de ser competitivo.
Compare-se a despesa que uma família de 3 pessoas faz de carro a gasolina com portagens incluídas, entre Lisboa e Porto, ou Lisboa / Faro, com a despesa que a mesma família faria se optasse pelo comboio, e depois de chegar à cidade de destino, ter ainda que apanhar um autocarro, metro ou táxi para onde fosse efectivamente.
E com um tempo quase sempre maior de viagem. Ou seja, para a média a longa distância, viajar em família, só mesmo por amor à camisola, ou para um nicho de mercado turístico, porque de resto, desde os horários e a capacidade das vias e até ao material circulante (tirando a honrosa expecção dos "pendulares" e da modernização das carruagens Corail), não se acompanhou os novos tempos. A imagem que se tem, depende do serviço que cada um terá de usar no dia a dia.
Digamos que ao nível dos sub-urbanos, a imagem melhorou muito, pelo menos na Linha de Sintra e Cintura, até à LN até Alverca, penso que com o tempo na Linha do Sado, mais atrasada a Linha de Cascais, e não conheço muito a realidade portuense.
No resto, os mais velhos vivem das suas memórias e vêem o caminho de ferro no interior como o era na sua juventude, mas na realidade em poucos casos melhorou, na maioria das vezes piorou muito, ainda que a possibilidade de mobilidade tivesse melhorado com a profusão de boas estradas e auto-estradas.
Julgo que com o tempo, uma melhor imagem dos caminhos de ferro no seu todo nacional, passará por uma maior visibilidade, que terá que ser consegida com boa oferta, na capacidade da infra-estrutura e nas composições, competitividade também estará no âmbito do transporte de mercadorias, dado o aparecimento de operadores privados que partilham a mesma infra-estrutura.
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